7 de fevereiro de 2011

Minha PresidentA, sua PresidentE

A discussão sobre a flexão de gênero do substantivo “presidente” tomará no mínimo 4 anos. E, com a possibilidade de reeleição ou ainda de eleição de outra candidata no futuro, bom, pode ficar por tempo indeterminado.
Na verdade não é uma questão que vá muito além de gosto pessoal, pois ambas as formas, PresidentA e PresidentE são aceitas pela norma culta para uma mulher presidente. Apenas, de modo geral, recomenda-se evitar a redundância da expressão “mulher presidenta”
Longos debates, com mais de 100 comentários cada, aconteceram no blog brasilianas (aqui e aqui), devem ter ocorrido em outros lugares também com resultados parecidos : muita argumentação em torno de pouco problema. Resumo a seguir o que encontrei com maior frequência.
Razões para escrever PresidentA
- deferência à preferência pessoal e declarada da própria presidenta. Afinal, na ausência de regra que obrigue a um uso, por que não a gentileza de atender a um desejo? (Eventualmente isto poderá se relacionar com pesquisas de popularidade...);
- reforço da preferência eleitoral de quem está usando o termo. Isto é, aparentemente quem votou em Dilma seria mais propenso a usar a forma terminada em –enta. Mas Sarney usou –ente no discurso da posse. Vários blogs governistas também têm escrito -ente... E uol.com.br e ig.com.br têm usado –enta... Se isto chegou a ser significativo, talvez não seja mais. Em todo o caso, na mídia escrita, ainda dá para ver preferências aqui e ali... (Carta Capital definou –enta, FSP prefere –ente);
- afirmação de gênero. Muita gente apresenta como argumento que usará presidentA, independente de preferência pessoal, para favorecer a afirmação da presença da mulher na política e na tomada de decisões para a sociedade, presença esta que ainda está relativamente em seu início. Eventualmente esta prática poderá se estender a outras situações, para quando mulheres assumirem a principal posição no Senado, na Câmara, em tribunais. Será que não há um movimento similar nas organizações privadas? (Cabe lembrar que a outra candidata, Marina Silva, gostava de frisar suas chances de se tornar a “primeira mulher presidente”, outra maneira de afirmação de gênero.)
Considerando a importância de marcar a ascensão de mulheres a postos de comando, a afirmação de gênero parece-me razão suficiente e a mais importante para se insistir um pouco mais no uso de presidentA. Daí é aguardar se a sociedade sancionará o seu uso ou o abandonará como eventual modismo.
Razões para escrever PresidentE
- conservadorismo lingüístico. Embora a forma presidenta exista na literatura desde final do século XIX (Machado de Assis) e em dicionários desde o início do século XX, é fato que por muitas décadas as eventuais (e poucas) presidentas de alguma coisa foram chamadas de presidentes. Esta forma então se justificaria pelo fato de presidente ser comum de dois gêneros e não ser necessária a flexão de gênero;
- há muitas argumentações em torno de estilo, etimologia e eufonia (sons agradáveis), que podem ser lidas nas discussões apontadas ou pesquisadas na internet. Entretanto nenhuma se determinou cabal para determinar o uso de presidentE, nem sequer foi possível caracterizar a forma presidentA como uma exceção. Fica claro que em geral prevalece o gosto pessoal, inclusive para os partidários políticos e fãs da presidenta. Ou presidente. Ou da primeira mulher presidente...
O que pode e o que deve
Em resumo, pode-se usar tranquilamente ambas as formas. E não há uma ou outra que se deva usar. Por gosto ou tradição muitos preferirão presidente, por entusiasmo com a novidade muitos outros usarão presidenta. Então, o que se deve é sentir-se confortável no uso. Eu me sinto confortável usando presidentA e não penso em me autocorrigir se um dia vier a usar presidentE.
Trata-se de uma questão de posicionamento da sociedade além de um desenvolvimento linguístico corriqueiro, mas não tão grave. A situação toda é um evento incomum, raramente se vê uma mobilização assim em função do uso de uma palavra. O que irá predominar? Não sabemos e talvez as duas formas convivam por muito tempo. Afinal, logo na primeira entrevista como presidenta eleita, para duas jornalistas da TV Record, Dilma usou ambas as formas!
Podemos acompanhar pelo Google, o tira-teima rápido de qualquer questão:
Número de resultados no Google para as expressões “presidente Dilma” e “presidenta Dilma” (pesquisa em 07/fev./2011):
Out./2010 : 313 mil (-ente) / 115 mil (-enta) = 26,9%
Nov./2010 : 657 mil (-ente) / 267 mil (-enta) = 28,9%
Dez./2010 : 521 mil (-ente) / 230 mil (-enta) = 30,6%
Jan./2011 : 1.580 mil (-ente) / 716 mil (-enta) = 31,2%
Conclusão : embora pesquisas no Google não revelem “grandes coisas”, o que parece estar ocorrendo é que a forma –enta já é usada em quase 1/3 das páginas e citações e também que está crescendo lentamente, mas de modo marginalmente decrescente. Nesse ritmo, lá pelo final do mandato o uso de cada forma poderá estar em torno de 50%. Ou não.
Usem a forma que preferirem e façam suas apostas!

Um comentário:

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