29 de março de 2011

Dilma 47 é muito diferente de Lula 48

Semana passada vimos pela imprensa a primeira pesquisa de popularidade, do Datafolha, mas sem os detalhes. Muito mais interessante é analisar a pesquisa completa, pouco divulgada mas disponível em:
http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=1135 (vale ler o relatório, tabelas completas estão disponíveis para download também.)


Muitos acham a participação de Dilma em programas populares uma concessão às classes médias e/ou à mídia tradicional. Mas não será marketing político para segmentos com menor hábito de consultar a mídia impressa? Por outro lado, já nas eleições se percebia a menor relutância nos segmentos de maior renda e maior escolaridade em apoiar a Presidenta.

A segmentação das intenções de voto em 2006 e 2010
Desde a eleição sabemos que Dilma é menos popular que Lula (o que é óbvio.) Enquanto este obteve 61% dos votos válidos em 2006, frente a Alckmin, ela recebeu 56%, frente a Serra, não houve transferência total da popularidade de 83%.

As pesquisas eleitorais apontavam para isso, em quase todos os recortes sócio-demográficos Dilma recebia 5 ou 6% menos de intenções de voto que Lula (última coluna da 1ª. tabela.) As vantagens de Lula sobre Alckmin, em torno de 22%, reduziram-se, para Dilma, a 10 a 12%.

Mas as pesquisas também mostravam algo muito relevante : essa diferença entre os candidatos petistas era tanto menor quanto maior a renda, escolaridade ou proximidade ao Centro-Sul e idade entre 35 e 60 anos. Em outras palavras, grupos que alguns presumem como com maior acesso e/ou interesse por noticiário.

Nesses segmentos Lula (2006) deve ter tido no máximo 5% a mais de votos válidos que Dilma (2010). No nível superior de escolaridade e renda acima de 5 s.m., provavelmente apenas 3% (como as pesquisas Datafolha de véspera em ambas as eleições ficaram muito próximas do resultado final, assumimos suas partes como inferência do voto segmentado.) Já no Nordeste ou na população em famílias até 2 s.m. de renda Lula teve até 9 pontos mais de intenções de voto que Dilma!

Na apuração da eleição (2º turno), os 45.9% de Dilma em SP, por exemplo, foram significativamente semelhantes aos 47.7% de Lula em 2006 (e apenas 2%, ou 240 mil, menos votos .) O contraste é o Nordeste :  os 22.8% de Alckmin saltaram para 29.4% com Serra! (quase 30% a mais, ou 2 milhões de votos.)

Há preconceituosos que podem dizer “o Nordeste elegeu Dilma” ou “o Centro-sul é conservador” (isto também é imagem pré-concebida), mas da comparação entre eleições sabemos que o Centro-sul (SP, Sul, Centro-Oeste) quase não se mexeu e o Nordeste (+ parcelas de MG e Norte) foi quem trouxe quase todo o crescimento eleitoral da campanha tucana!

Assim, não importa muito saber que na classe média de SP Serra ganhou com folga (em bairros da capital chegou a 80% dos válidos) e que em quase todas as microrregiões do Nordeste Dilma ganhou, isso era o esperado. Temos sempre é que acompanhar como as coisas se deram comparativamente à situação anterior e Dilma não foi, na eleição, menos popular (ou menos votada), junto às classes médias, do que Lula tinha sido em 2006. Nem nos estados de maior renda. E mesmo com a campanha tendo sido como foi (mas foi menos votada do que uma hipotética 3ª. eleição de Lula.)

Conhecimento de um candidato é algo ainda muito importante se a população não for muito politizada, sindicalizada, etc. Quem pode ter ficado em desvantagem nesse processo todo talvez tenha sido a credibilidade da mídia junto a seu público, não a da candidata governista. Salientamos esses números para demonstrar que a campanha desconstrutiva de imagem (de Dilma) ou o promessômetro tiveram muito maior impacto nos grupos com menor renda.

Essa avaliação é mais para “marqueteiros”, mas pensemos : se nas parcelas atingidas pela “velha mídia” Dilma obteve votação parecida com a de Lula e se nas parcelas com menor acesso à imprensa escrita o resultado ficou bem aquém (ainda que bom), porque se questiona tanto, agora, a participação de Dilma em programas populares? Ou seja, 2014 já está em curso...

As pesquisas de popularidade de primeiro trimestre de mandato
Vamos comparar as pesquisas de aprovação de presidência de começo de mandato (Lula 20/mar./2007; Dilma 16/mar./2011.) [2ª. tabela]

Para Dilma em mar./2011 o “ruim/péssimo” foi apenas 7%, o menor nível obtido por um presidente em início de mandato (Collor 19%, FHC I 16%, Lula I 10%.) Sem ter tido tempo de mostrar nada de tão excepcional em políticas públicas (a Rede Cegonha foi só hoje, p.ex., Lula havia lançado o Fome Zero antes da pesquisa) essa ausência de reprovação pode ser atribuída à manutenção da sensação de bem-estar divulgada na campanha. Só uma hipótese. Mas reforçada pelas expectativas : 78% apostam que o governo será pelo menos bom ao longo do mandato.

As “classes médias” : embora Lula, em mar./2007, tenha recebido boa avaliação geral, ele chegou a 24% de “ruim/péssimo” na avaliação das pessoas com ensino superior , 20% entre aqueles com mais de 5 e até 10 s.m. de renda, 26% naqueles com mais de 10 s.m. de renda. No Sul/Sudeste chegava a 18% de desaprovação. Tudo isso em comparação com a desaprovação média nacional de 14% (Nordeste 8%.)
Já para Dilma os números de “ruim/péssimo” de todos os segmentos foram bem próximos à média nacional de 7% : 8% no ensino superior, 6% na renda entre 5 e 10 s.m., 13% entre os mais ricos. Para Lula, portanto, a desaprovação ia de 26% (+ ricos BR) a 8% (Nordeste), uma diferença muito grande (18 pontos.) Já para Dilma os extremos são quase os mesmos, + ricos com 13% e Norte/Centro-Oeste com 6% (demais regiões 7%), mas apresentando apenas 7 pontos de diferença entre eles.

Note-se a aprovação por escolaridade : Lula teve 54% de apoio inicial junto aos eleitores com ensino fundamental e apenas 33% junto aos eleitores com curso superior. Para Dilma foi 50% e 42%. Uma diferença de 21 pontos reduziu-se a 8! No geral, portanto, tanto a aprovação como a desaprovação de Dilma são muito mais parecidas entre as várias regiões e recortes sócio-demográficos do que foram com Lula, dispersão bem menor em torno da média. Ainda vale a tese preconceituosa de que Dilma foi eleita pelos favorecidos pelo Bolsa-família ou pelos analfabetos? Esqueça-se o que circulou de agressividade no twitter e na internet no pós-eleições, marqueteiros olharão para dados em 2014, não para as manifestações precipitadas de 2010.

Virada feminina : no 2º turno Dilma recebeu 55% das intenções de votos masculinas e 47% das femininas, situação semelhante à de Lula em 2006 (61%; 55%.) Poderíamos esperar que uma primeira pesquisa acompanhasse as urnas, já que tão pouco tempo decorreu (normalmente quem votou “aprova” e vice-versa.) No entanto, agora, somente 43% dos homens aprovam o governo de Dilma vis a vis 51% das mulheres (com Lula em março/2007 foi o contrário : 51%; 45%) Somando as diferenças, que são em direções opostas, a aprovação de Dilma é 14 pontos mais feminina que a de Lula (em início de 2º mandato); isso é uma substancial novidade que não se percebe olhando apenas os índices globais de 47 e 48% que eles receberam. A que se deveria?

Importância do conhecimento em todos os segmentos : é claro que agora o nome Dilma é conhecido, já na altura da eleição apenas 2% dos eleitores ainda não sabia quem seria “candidato do Lula/PT”. Mas isso não quer dizer que todos tenham, depois, tomado conhecimento do governo. As aparições de Dilma são mais discretas, o que acaba se estendendo às ações de governo. Quando se perguntou o que se achava do governo do presidente Lula, este recebeu 7% de “não sabe” em 31/mar./2002 e apenas 1% em mar./2007. Já Dilma atingiu um recorde para uma primeira pesquisa: 12%.

Isso se dá até de modo homogêneo: 13% dos com ensino fundamental, 15% dos com ensino superior, 12% dos com renda até 2 s.m., 11% dos com renda superior a 10 s.m. não sabem avaliar o novo governo. Por pesquisas seguintes de outros presidentes a tendência é esses percentuais deslocaram-se primeiro para uma posição de “regular”, em um período seguinte irem para a desaprovação (quando as expectativas deixam de ser atendidas.) Acompanhemos, pois.

Considerações finais
As tabelas mostram dados para as pesquisas de véspera das eleições e as primeiras pesquisas de popularidade. Em rosa os segmentos onde Dilma se saiu relativamente melhor que Lula.

No geral o Nordeste é bem menos “dilmista” do que foi “lulista”, a aprovação caiu, entre presidentes, de 59 para 50%, mas a desaprovação apenas de 8 para 7%. O Sul é o oposto : a aprovação foi dos 36% de Lula para os 44% de Dilma, a desaprovação caiu substancialmente, de 18% para os mesmos 7% do Nordeste. Como as demais regiões são intermediárias dessas duas citadas, o que temos é um país bem mais homogêneo na apreciação do trabalho da presidenta, o que já se antecipava na pesquisa de véspera de eleição : Dilma teria 9% menos de preferência no Nordeste que Lula e somente 2% a menos no Sul (os dados oficiais das urnas ficaram muito próximos disso.)

Como dito antes, a hipótese é que a campanha eleitoral difamatória e/ou o promessômetro tiveram bem maior impacto no Nordeste do que no Sudeste e Sul. Se isso for verdadeiro, Dilma poderá ter um bom espaço para aumentar sua popularidade no Nordeste e em MG (e portanto na média do Brasil) quando, entre outras coisas, o S.M. de R$ 625 for anunciado em jan./2012.

Em resumo, Sudeste, Sul, mulheres, pessoas com ensino médio e superior, pessoas com renda acima de 5 s.m. são mais “dilmistas” agora do que foram “lulistas” há 4 anos atrás. Isso já se percebia desde as eleições, mas as mudanças mais dramáticas de lá para cá, percebidas pela pesquisa, foram Sul, mulheres e ensino superior, pois para estes segmentos Dilma obteve um gap de aprovação (ótimo/bom deduzido de ruim/péssimo) pelo menos 15 pontos maior que o de Lula, sendo 25 pontos de diferença na escolaridade superior! (47 na média é bem diferente de 48 ;)... ). Observe-se nas células em amarelo como a popularidade de Dilma é algo muito mais homogêneo e distribuído do que havia sido a de Lula.

Se para tais segmentos a redução do preconceito ou uma postura menos agressiva da mídia pode ter contribuído para maior popularidade de Dilma, por que o mesmo não ocorreu em regiões menos ricas, com pessoas de menor renda e/ou escolaridade? Frustração por não haver salário mínimo de R$ 600 ou, talvez, a ainda pequena exposição junto ao eleitorado?

Aguardemos as aparições de Dilma em programas na TV, as medidas de governo que forem sendo tomadas - e divulgadas, a postura da mídia e, enfim, uma nova rodada de pesquisas (que deve ocorrer entre junho e agosto.)






27 de março de 2011

Exportações de manufaturados : um enigma a desvendar

Seria muito bom se algum especialista em contas externas pudesse ajudar a esclarecer a seguinte questão : como é possível que as exportações brasileiras de manufaturados voltaram a crescer recentemente apesar da valorização cambial?
Que os produtos básicos e semimanufaturados aumentaram sua participação na pauta de nossas exportações de 46% (1997) para 60% (2010) é notório : houve algum aumento de quantidade, mas principalmente substantiva valorização desses itens em relação aos manufaturados pelo mundo todo. Assim, produtos básicos aumentaram sua participação em valor em todo o comércio internacional, não apenas no Brasil. E países que dependem de exportações industriais viram suas relações de troca deteriorarem.
Também é sabido que tal valorização das matérias-primas permitiu o equilíbrio das contas externas brasileiras, sustentando o aumento do consumo doméstico além de sua própria oferta, especialmente de 2008 para cá. Tal equilíbrio é completado pela entrada de investimentos diretos, embora haja a suspeita de investimentos especulativos disfarçados dentre estes (teria que ser explicado como o volume de tais investimentos dobrou, de US 30 bi anuais para quase US$ 60 bi, em um ano e meio.)
Contudo, apesar da  expressiva valorização cambial real (113% de 2004 para 2010, a acreditar nas contas do Banco Mundial, que comparam os níveis de preços internos de cada país com os dos EEUU, apreciação essa menor se em relação a outros países) o nível absoluto de exportações brasileiras de manufaturados (em acumulados anuais) vem se recuperando desde jan./2010, estando agora apenas 12% abaixo de seu pico histórico (out./2008, ou seja, antes dos efeitos da crise se disseminarem em sua total amplitude.)
Que “teorias” poderemos apresentar para isso?
- os insumos transacionáveis internacionalmente poderiam ser componente relevante da formação final de preço (isto é, porção relativamente pequena do preço não seria dolarizada), permitindo que a valorização local de salários seja compensada por ganhos de produtividade;
- que ocorre uma mudança internamente na pauta de produtos manufaturados exportados, privilegiando aqueles com menor uso intensivo de mão-de-obra;
- que a elasticidade-preço nos mercados internacionais é menos importante que a capacidade de oferta de bens (observe-se que a aumentos de demanda internacional por produtos básicos correspondem aumentos também para os produtos manufaturados);
- que a manufatura brasileira absorve perdas de preços na forma de menor rentabilidade, sacrificando sua capacidade futura de investimento.

De qualquer modo, em momentos de crise mundial, como 1999 e 2002, o baixo valor real do câmbio no Brasil não ajudou a impedir a queda de exportações nem para manufaturados nem para produtos básicos. Analogamente, a desvalorização pós-crise de 2008 (mais intensa de out./2008 a abr./2009, com o US$ a mais de R$ 2,20) colaborou para a redução de importações, mas também não impediu quedas de 20% nas exportações de qualquer linha. Finalmente, apesar da maior valorização histórica do Real (22% acima do pico anterior de 1996), estamos com crescimentos anuais em torno de 20% na exportação de manufaturados (puxados pela demanda internacional da recuperação?) desde o início de 2010.
Talvez o câmbio não seja a variável macroeconômica mais importante...




Existe preconceito em relação a paulistas?

Dia 26 passado apareceu no brasilianas.org (vulgo Blog do Nassif) um post sobre o tema título:
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-preconceito-contra-sao-paulo

Para quem não acompanha as discussões de lá é meio "solto", mas dá para perceber que a indignação do autor é em relação ao reducionismo que se manifesta em blogs quando em algumas discussões surge o Estado de São Paulo.

Vale a pena ler a carta de Mário de Andrade citada nesse post. Nela vemos como a questão é antiga, e também o quanto de fator econômico contém. Não mudou muito desde os anos 30...
Inspirado por esse post é que escrevi o que segue:

Existe algum preconceito em relação a São Paulo e seus habitantes, mas, em parte e na minha opinião, com sua razão de ser. Deve ser compreendido para ser superado.

Durante décadas (principalmente de 1930 a 1990) o estado se apropriou de renda através de políticas tributária e de comércio exterior que o favoreceram com um mercado cativo. Outros estados não podiam importar livremente produtos industriais, por exemplo, com a venda de seus produtos básicos, tendo assim desvalorizadas suas relações de troca.  Um pouco como a reprodução em miniatura de um processo de imperialismo norte-sul.

O corolário dessa situação é que por volta de 1990 a renda per capita no estado era 85% superior à média das demais unidades da federação, situação que pouco se alterou desde então.
Se isso favoreceu ou não o desenvolvimento do Brasil como um todo não vem ao caso agora, mas a proteção à produção industrial – e também agrícola – paulista, e a sucessiva acumulação e concentração de recursos financeiros e humanos, notadamente o poder de decisão econômica, foi um processo pouco percebido também por seus habitantes, alguns dos quais atribuem a pujança econômica do estado a um vago e mítico espírito empreendedor, trabalhador ou coisas assim.

Aqui cabe pensar se esse diagnóstico, de que a maior afluência econômica seria motivadora de posturas injustificadamente arrogantes, é verossímil. Creio que sim.

Não é necessário ser de outro estado para perceber que existem, sim, no nosso estado, pessoas pouco sensíveis a qualquer iniciativa para a necessária desconcentração regional de renda. E também há pessoas preconceituosas e petulantes em relação a oriundos de outros estados, julgando com uma régua equivocada de valores.

Posturas desse feitio eventualmente poderão ser notadas também entre os habitantes dos estados que sucedem em riqueza a São Paulo. Mas, em nenhum deles há semelhante proporção de nascidos fora do estado, reduzindo-se as situações eventuais de preconceito cotidiano, pelo menos o de origem geográfica.

Muito disso poderia ser mitigado com maior disseminação de história, de cultura, de sociedade, de conhecimento do outro e de si mesmo. Mas não se deu também assim o processo que levou ao preconceito xenofóbico em países centrais? E que por sua vez leva a uma reação, também preconceituosa, da qual é exemplo o sentimento antiamericano? Não há novidade em nada disso.
Enfim, se há preconceito em relação a São Paulo, quanto disso não se originou de um conceito, da percepção de que há uma porção visível de paulistas que “se acham”? Circunstância que inclusive embaraça, quando não envergonha, a muitos paulistas natos.

Mas tais conterrâneos “sem noção”, são minoria, acredito, de qualquer modo. Pena que aparecem em cena, às vezes, mais que nossos Mários de Andrade.

6 de março de 2011

Brasil : 7ª maior economia do mundo em 2010/2011.

O texto foi escrito em 03/jan., para outro blog. Como as estimativas se confirmaram, vai sem edição/atualização.
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As estimativas são que em 2010 o Brasil passou a ser, por pouco, a 7ª. maior economia do mundo (o que só poderá ser confirmado em março ou abril) e que deve permanecer assim este ano e em 2012 (dependendo de sua taxa de crescimento e a de países europeus, 2013 segue o ano mais provável para o Brasil passar a 6ª maior economia.) No entanto, se as economias da Rússia, França e Reino Unido revelarem-se excepcionalmente fracas, e a do Brasil forte, há chances matemáticas do Brasil ser a 6ª ou mesmo a 5ª economia ainda este ano, dependendo do critério de medição.

Há uma publicação muito boa da The Economist, todo ano, na qual se mostram prospecções para o ano seguinte para as 80 maiores economias do mundo. No Brasil a 25ª edição chama “O Mundo em 2011”, com tradução da Carta Capital e custa R$ 15,90 nas bancas. Recomendo enfaticamente.

Nela encontraremos que as previsões para 2011, para o porte das 10 maiores economias do mundo são:
PIB em US$ bilhões correntes:
ESTADOS UNIDOS : 14.996 / CHINA : 6.460 / JAPÃO : 5.621 / ALEMANHA : 3.127 / FRANÇA : 2.490 / REINO UNIDO : 2.403 / (7º) BRASIL : 2.052 / ITÁLIA : 1.888 / ÍNDIA : 1.832 / RÚSSIA : 1.737
PIB por Paridade de Poder de Compra (PPP) em US$ bilhões (os países são os mesmos, mas em outra ordem, ao lado as taxas de crescimento previstas para 2011, já embutidas nos PIBs):
ESTADOS UNIDOS : 14.996 +1,5% / CHINA : 11.292 +8,4% / ÍNDIA : 4.508 +8,2% / JAPÃO : 4.408 +1,3% / ALEMANHA : 2.989 +1,1% / RÚSSIA : 2.351 +4,0% / (7º) BRASIL : 2.314 +4,5% / REINO UNIDO : 2.221 +1,3% / FRANÇA : 2.189 +1,1% / ITÁLIA : 1.864 +0,6%

[Uma avaliação sobre a pertinência do atual tipo de câmbio R$/US$, sobre os dinamismos relativos e sobre a grande disparidade de renda média requereria esforço adicional. Esses importantes assuntos estão propositadamente omitidos por ora. Fiquemos naquilo que normalmente a imprensa vai acabar noticiando, que são rankings...]

O que se pode observar:

- Como não deve haver mudanças relativas de posição entre 2010 e 2011 (apenas a Índia passará o Japão no segundo critério por sua muito maior taxa de crescimento) o Brasil já deve ser a 7ª maior economia, pelos dois principais critérios, desde 2010 (em 2009 os PIBs de França e Reino Unido foram maiores que o do Brasil pelo critério de PPP; em 2009 o PIB da Itália foi maior que o do Brasil em US$ correntes. A se confirmar as ultrapassagens pelo Brasil em 2010.)

- Pelo critério PPP o Brasil deve completar 2011 com PIB inferior em apenas 1,5% ao da Rússia. De 1993 a 2004 o PIB brasileiro já tinha sido superior ao da Rússia e, dependendo das circunstâncias do mercado de gás/petróleo (a Rússia é muito dependente da exportação desses produtos para o mercado europeu), uma nova ultrapassagem em 2011 ou 2012 é possível, o que deixaria o Brasil em breve como 6ª economia em termos reais (independentemente de oscilações cambiais.) 

- O PIB em US$ correntes para o Brasil em 2010 pode ser previamente estimado em US$ 2.050 bilhões (o anúncio do valor correto deve ser em março/2011). A Economist Intelligence Unity prevê valor similar para 2011, mas considerando inflação de 4,4% e crescimento real do PIB de 4,5%. Isto pode significar uma previsão implícita de desvalorização cambial de 9%. No entanto, se tal desvalorização não ocorrer e se a taxa média de câmbio em 2011 permanecer em R$ 1,75/US$, o PIB do Brasil será, nessa medição, de US$ 2.225 bilhões (mas mantendo-se em 7ª posição.) Porém, o Euro (desde 2008) e a Libra (desde 2007) experimentaram desvalorização em relação ao US$, de 16 e 8% e esse movimento está ainda em curso. Enquanto a moeda brasileira permanecer na valorização atual, e se houver uma desvalorização subseqüente de 10% do Euro ou da Libra, o PIB do Brasil, nessa medição, ultrapassaria os de França e Reino Unido apresentando-se como o 5º maior (o que seria algo insólito e não necessariamente desejável para este e próximos anos.)

As previsões de que o Brasil seria a 5ª ou 6ª economia do mundo pela época da Rio-2016 ficam desse modo um pouco antecipadas. Elas tinham sido feitas antes da medição dos impactos da crise de 2008 e, como as economias européias saíram-se relativamente mal em 2009 e 2010, tanto em crescimento como em apreciação de suas moedas, o Brasil ultrapassou Itália e provavelmente ultrapassará França, Reino Unido e Rússia antes do que havia sido imaginado. A seguir a previsão do PIB por PPP para 2011 como percentual daquele de 2007 (antes da crise) para as 25 maiores economias do mundo (o que inclui todos os G-20):

ESTADOS UNIDOS (2011/2007) : 107% / CHINA : 153% / ÍNDIA : 139% / JAPÃO : 103% / ALEMANHA : 102% / RÚSSIA : 115% / BRASIL : 124% / REINO UNIDO : 102% / FRANÇA : 103% / ITÁLIA : 99% / MÉXICO : 120% / COREIA DO SUL : 123% / ESPANHA : 100% / CANADÁ : 109% / INDONÉSIA : 131% / TURQUIA : 103% / TAIWAN : 135%  / IRÃ : 119% / AUSTRÁLIA : 121% / POLÔNIA : 118% / HOLANDA : 104% / ARGENTINA : 126% / ARÁBIA SAUDITA : 119% / TAILÂNDIA : 117% / ÁFRICA DO SUL : 114%

Por esta medição o Brasil deve se sair como a 6ª economia melhor sucedida, dentre as 25 maiores, na absorção dos efeitos da crise financeira de 2008 (atrás de China, Índia, Taiwan, Indonésia e Argentina.)

Uma curiosidade :
Mantidas as seguintes taxas de crescimento anuais para o PIB (EEUU 1,5%; China 8%; Índia 6%; Japão 1%; Alemanha 1%; Rússia 4%; Brasil 5%), a economia do Brasil ultrapassaria a da Alemanha por volta de 2018, tornando-se a 5ª maior em poder de compra. Se a Índia mantiver sua moeda desvalorizada como atualmente, a economia do Brasil em US$ correntes pode vir a ser a 4ª maior em algum ano a partir de então (atrás de EEUU, China e Japão.)

3 de março de 2011

A inflação distante do umbigo da blogosfera

A Presidenta surpreendente
Durante o ano de 2010 muitos blogs, apelidados aqui e ali de “sujos” ou “progressistas” dedicaram-se a desmontar o pensamento único da grande mídia (que por sua vez recebeu a jocosa alcunha de PIG.)
Mas quem vai desmontar o pensamento único da blogopauta? Não parece contraditório que uma candidata a presidente, Dilma, tenha sido tão elogiada por meses e... surpresa! Assim que toma possa é crítica atrás de crítica. Há exceções, claro.
Critica-se tudo, a escolha dos ministérios, as composições no Congresso, as presenças na mídia, pretensos recuos (no caso, recuos em relação a coisas que ela nunca prometeu ir atrás, diga-se.)
É curioso criticar-se a presidenta até por se deixar elogiar na mídia. Ora, o que se queria? Que o Planalto plantasse menções negativas através de assessoria de imprensa? Que a velha mídia só criticasse e aí sair em socorro?
O poder dificilmente muda de mãos, não é necessário lembrar disso. O que às vezes muda é a orientação de governo, que pode interferir em políticas de Estado e leis. Mas pode existir adesismo também, normal. A melhor piada que li esta semana foi  no twitter : “Tive que sair por dez minutos... Mais alguém aderiu ao governo?”
É claro que surgem 476 explicações do porquê estar tudo errado agora (passados apenas 2 meses da posse) e razões para estarmos pessimistas (eu não estou.) Nesse irrestrito gosto por teorias de conspiração, acaba se perdendo o gosto pela informação. (E, alguém anda checando a audiência de blogs, número de visitas, de comentários, etc?)
O horror do aumento da Selic
Muito barulho agora em torno de taxas de juros. Foi para 11.75% tsc tsc. É mandatório falar por todos os lados que os gastos anuais de juros (brutos) equivalem a XX Bolsas-família. Comenta-se das tendências neoliberais “deste” governo, do pensamento único da mídia e dos bancos pautando o mesmo... Mas porque ninguém lembra que existem impostos sobre os juros, especialmente o inflacionário, e que depois disso sobra só ¼ do rendimento?
Vamos raciocinar : o governo prometeu continuísmo à população se elegesse Dilma. Continuidade é o que terá. Ela prometeu convergência às taxas internacionais de juros para emergentes em 4 anos (eu ouvi isso no Roda Viva, mas não ouvi ela dizer que seria em 2011.) Ela prometeu combater inflação, e é isso que fará. Independente de eu ou mais alguém acharmos inflação um mal menor, o que conta é o que o povo espera. O que cabe falar é sobre ferramentas para isso.
Mas não se pode perder o discurso que denuncia o “poder dos rentistas”, então fica quase interditado falar que existe (ainda!) inflação no Brasil. E que ela está aumentando. Vamos torcer para que alimentos, algodão e petróleo caiam de preço nos próximos meses, mas não dá pra ter isso como certo. (Ah, falar que o desemprego é baixo e que há restrições para o desenvolvimentismo agora também não é de bom tom...)
De qualquer modo, o que temos:
- as elevações recentes de juros são bem menores que a elevação da inflação (o INPC passou de 4,3% até ago/10 para 6,5% em jan/11; a Selic líquida de IR, acumulada em 12 meses, passou de 7,4% para 8,4%. O que subiu mais?)
- as taxas nominais e reais de juros caíram substancialmente desde 2006 (e mesmo assim o Real continuou apreciando, então esqueça-se esse mito de que basta baixar juros para desvalorizar);
- desde nov./2010 o ganho líquido dos rentistas está abaixo de 2% a.a., há 3 anos em torno de 4% a.a. ou menos (qualquer bolha imobiliária é coincidência...)
- os juros reais da Caderneta de Poupança (algo reverenciado pela população), mesmo isentos de impostos, não passam de 2% ao ano desde 2007, com risco de se tornarem negativos agora;
- ainda existe uma identidade macroeconômica que diz que Poupança (S) = Investimento (I). Ou seja, não será diminuindo a atratividade da poupança que se elevarão os investimentos.


As alternativas à política monetária
É um problema para Dilma, Mantega e Tombini administrar, entre tantas outras questões, uma inflação que se avizinha dos 7% (4% apenas nos últimos 5 meses), o que não se via desde 2008.
Muitos críticos do governo dizem saber que política monetária não resolve para lidar com inflação. Não duvido. Ok, com eles a palavra: se não é para manter juros reais positivos, o que é para fazer?