http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-preconceito-contra-sao-paulo
Para quem não acompanha as discussões de lá é meio "solto", mas dá para perceber que a indignação do autor é em relação ao reducionismo que se manifesta em blogs quando em algumas discussões surge o Estado de São Paulo.
Vale a pena ler a carta de Mário de Andrade citada nesse post. Nela vemos como a questão é antiga, e também o quanto de fator econômico contém. Não mudou muito desde os anos 30...
Inspirado por esse post é que escrevi o que segue:
Existe algum preconceito em relação a São Paulo e seus habitantes, mas, em parte e na minha opinião, com sua razão de ser. Deve ser compreendido para ser superado.
Durante décadas (principalmente de 1930 a 1990) o estado se apropriou de renda através de políticas tributária e de comércio exterior que o favoreceram com um mercado cativo. Outros estados não podiam importar livremente produtos industriais, por exemplo, com a venda de seus produtos básicos, tendo assim desvalorizadas suas relações de troca. Um pouco como a reprodução em miniatura de um processo de imperialismo norte-sul.
O corolário dessa situação é que por volta de 1990 a renda per capita no estado era 85% superior à média das demais unidades da federação, situação que pouco se alterou desde então.
Se isso favoreceu ou não o desenvolvimento do Brasil como um todo não vem ao caso agora, mas a proteção à produção industrial – e também agrícola – paulista, e a sucessiva acumulação e concentração de recursos financeiros e humanos, notadamente o poder de decisão econômica, foi um processo pouco percebido também por seus habitantes, alguns dos quais atribuem a pujança econômica do estado a um vago e mítico espírito empreendedor, trabalhador ou coisas assim.
Aqui cabe pensar se esse diagnóstico, de que a maior afluência econômica seria motivadora de posturas injustificadamente arrogantes, é verossímil. Creio que sim.
Não é necessário ser de outro estado para perceber que existem, sim, no nosso estado, pessoas pouco sensíveis a qualquer iniciativa para a necessária desconcentração regional de renda. E também há pessoas preconceituosas e petulantes em relação a oriundos de outros estados, julgando com uma régua equivocada de valores.
Posturas desse feitio eventualmente poderão ser notadas também entre os habitantes dos estados que sucedem em riqueza a São Paulo. Mas, em nenhum deles há semelhante proporção de nascidos fora do estado, reduzindo-se as situações eventuais de preconceito cotidiano, pelo menos o de origem geográfica.
Muito disso poderia ser mitigado com maior disseminação de história, de cultura, de sociedade, de conhecimento do outro e de si mesmo. Mas não se deu também assim o processo que levou ao preconceito xenofóbico em países centrais? E que por sua vez leva a uma reação, também preconceituosa, da qual é exemplo o sentimento antiamericano? Não há novidade em nada disso.
Enfim, se há preconceito em relação a São Paulo, quanto disso não se originou de um conceito, da percepção de que há uma porção visível de paulistas que “se acham”? Circunstância que inclusive embaraça, quando não envergonha, a muitos paulistas natos.
Mas tais conterrâneos “sem noção”, são minoria, acredito, de qualquer modo. Pena que aparecem em cena, às vezes, mais que nossos Mários de Andrade.
Infelizmente não é às vezes: VIA DE REGRA aparecem mais que os Mários de Andrade.
ResponderExcluirE que outros brasileiros atingiram a genial universalidade e a grandeza generosa de alma do próprio Mário de Andrade? Muito poucos mesmo!
Mas basta ler a Meditação sobre o Tietê, escrita bem pouco antes da sua morte, para ver como o próprio Mário sofria com as forças que, minoritárias ou não, dominam São Paulo.